domingo, 1 de abril de 2012

Quinta-Feita Santa: Missa da Ceia do Senhor



Com a Quinta-feira Santa, termina a Quaresma e inicia-se o Tríduo Pascal. Na Eucaristia «in coena Domini» ou da Ceia do Senhor, canta-se o hino do Glória, seguido do toue dos sinos que não se ouvirão até à Vigília Pascal. O sacerdote profere a homilia conhecida por «Sermão do Mandato» e lava os pés “voluntários”. Despois da comunhão a reserva Eucarística é levada processionalmente para a capela lateral. No fim da Eucaristia retira-se a toalha do altar e cobrem-se as cruzes da Igreja. A capela do Santíssimo estará adornada com símbolos e a noite consagrada a especial visita aos sacrários.

A Quinta-feira Santa é para todos nós, cristãos, um dia de imensa alegria, porque nos leva às fontes da nossa condição de discípulos de Jesus Cristo, reunidos em Igreja, como Povo Sacerdotal.



Na origem da Eucaristia, como na origem de todas as grandes realidades e de todos os mistérios da fé cristã está um acontecimento, que pode ser revivido como um memorial, que pode ser atualizado e que pode continuar a frutificar como da primeira vez em que foi realizado. O Senhor prometeu à sua Igreja a presença do seu Santo Espírito, que faz de um acontecimento que teve origem no passado um acontecimento novo no nosso tempo, que foi há dois mil anos gerador de graça e salvação e continua a sê-lo ainda hoje.



A Páscoa judaica

Neste dia de Quinta-feira Santa, a liturgia dá-nos a possibilidade de recordarmos a origem da Eucaristia, que, sendo um acontecimento totalmente novo no seu alcance e no seu sentido, se insere dentro de uma antiga tradição, proveniente do Povo Hebreu, o povo a quem Deus começou a revelar-se. Anualmente, aquele povo reunia todos os seus motivos de ação de graças e de louvor e voltava-se para o Senhor num gesto de culto agradável e puro. A celebração da Páscoa dos judeus passou por fases diferentes, consoante as circunstâncias da sua vida e a forma de relação que tinha com o Deus único e Senhor de todas as coisas.

Enquanto povo nómada e peregrino num deserto duro, ofereciam ao Senhor um culto muito simples, por altura do início da Primavera: imolavam um cordeiro ou um cabrito, que assavam no fogo e comiam com as ervas amargas, de pé e com os rins cingidos. Tratava-se de uma forma de agradecer os bens que lhes permitiam a vida: os rebanhos e os poucos haveres de que dispunham, mas que reconheciam provir das mãos bondosas de Deus.

Enquanto povo sedentário, após a passagem do Mar Vermelho, depois da experiência do Sinai, interlocutores de Deus num processo de revelação e aliança, beneficiados com o dom de uma terra boa e fértil, começam a celebrar uma ceia pascal. Um ritual diferente, mas o mesmo louvor e ação de graças, agora com motivações mais claras e acrescidas: o Senhor tinha-se-lhes dado a conhecer como um Deus libertador e criador, como um Deus de aliança, que está presente e acompanha todos os passos dos seus filhos, num intuito de salvação.

O livro do Êxodo apresentava-nos hoje um resumo dessa longa experiência de um povo que quer ser chamado povo de Deus, porque tem consciência nascer dum acontecimento cuja iniciativa não é sua mas do próprio Deus e de que é um povo salvo, não pelas virtudes ou forças, mas pela misericórdia de Deus, que tira da desgraça em que caiu por causa da sua infidelidade. Esse grande acontecimento tem de ser celebrado de geração como um memorial: festejá-lo-eis por todas as gerações como lei perpétua… haveis de celebrá-lo com uma festa em honra do Senhor.



A última “Páscoa de Jesus”

É a última “Páscoa de Jesus”. Está em Jerusalém, percebeu que os fariseus aumentaram a rejeição da sua missão, estão a tramar a sua morte. O clima que reina em seu redor, mesmo entre os seus discípulos, é de tensão e tristeza. São obstáculos por todos os lados, sabem que não será fácil “celebrar esta páscoa” com a devida solenidade e alegria do coração, contemplando a memória da libertação do povo e estando no Templo. Mas Jesus não foge da sua missão e da sua presença na Páscoa. Ele sabe que não pode faltar a esse compromisso que revela a sua presença messiânica e fortalecedora no meio do povo. Enviou à frente os discípulos para preparar um lugar digno para celebrar “esta Páscoa” (Lc 22, 7-13). É Páscoa, é festa.

Ainda a Páscoa não foi celebrada, o Templo está um formigueiro de peregrinos, de levitas, sacerdotes que preparam tudo o que é necessário para os sacrifícios prescritos pela Lei. Os cordeiros de um ano, sem manca, sem defeito, estão prontos e preparados para serem sacrificados. O povo vai e vem, tentando descobrir se Jesus, este ano, também virá passar ali a Páscoa. Estão curiosos para ver como se resolverá o encontro do mestre Jeshua com os sumos sacerdotes.



Instituição da Eucarístia

Com Jesus Cristo, os gestos salvadores de Deus atingem o seu cume – Ele entrega-se à morte por todos os homens e manda-nos celebrar a Santa Ceia e realizar aquele gesto eloquente em sua memória. Na Primeira Carta aos Coríntios está a mais antiga narração da instituição da Eucaristia e o anúncio primeiro do Kerigma cristão, o Senhor na noite em que ia ser entregue tomou o pão e tomou o vinho, abençoou-os, repartiu-os e disse que o fizéssemos em sua memória. Aquele é o acontecimento definitivo que realiza de modo sacramental o mistério da sua entrega, da sua morte e da sua ressurreição. Nele, o Senhor realiza a grande ação de graças e o grande louvor ao Pai, não já somente por um ano, mas por todos, não por algumas pessoas, mas por todos.

Não se trata agora de uma festa nómada, nem de uma festa de um povo sedentário, mas da festa de todos os povos, unidos a Cristo, que se oferece ao Pai, que morre e ressuscita para que todos tenham a vida perdida em consequências das suas infidelidades e do seu pecado.

Para nós, hoje, Eucaristia é memorial de um acontecimento, mas é ainda mais, memorial de uma Pessoa, que nos amou e nos ama até ao fim, até à morte de cruz, como porta aberta para a ressurreição e a vida.



O Gesto do lava-pés

Levantou-se então da mesa,

tirou o manto, tomou uma toalha e amarrou-a na cintura.

Depois derramou a água numa bacia e

começou a lavar os pés

dos discípulos e a enxaguá-los com a toalha da cintura. (Jo 13, 4-5)



A um certo momento Jesus “levantou-se da mesa”. Esse gesto era insólito, ninguém se levantava da mesa para fazer nada, tudo era servido, alimentos, água para lavar as mãos, vinho. Mas esse gesto de Jesus de se levantar da mesa assume um significado especial.

O gesto do lava-pés resume a atitude de vida de Jesus, é um convite diretamente dirigido aos apóstolos e aos sacerdotes, mas é igualmente gesto inspirador para a vida de todos os cristãos. Enquanto discípulos, havemos de distinguir-nos acima de tudo pela caridade, expressa no serviço humilde ao nosso próximo.

“Eu dei-vos o exemplo para que assim como Eu fiz, vós façais também”. Grande tarefa, enormíssima missão.

Este dia impõe-nos um estilo de vida, que define a nossa identidade: a caridade e o serviço. Esse é mesmo o culto mais agradável a Deus. Celebrar a Eucaristia, realizar o louvor por meio da oração, dar graças com cânticos, sintonizar com Deus na comunhão silenciosa da vontade e, como expressão da sinceridade e da pureza de tudo isso, a caridade e o serviço aos irmãos.



Cântico “Sobe a Jerusalém”

O cântico “Sobe a Jerusalém” que cantamos nas eucaristias tem esta mesma mensagem principalmente na última parte:

Sobe a Jerusalem, virgem oferente sem igual

Vai apressenta ao Pai teu Menino: Luz que chegou no Natal.

E, junto à sua cruz, quando Deus morrer fica de pé.

Sim, Ele te salvou, nas o ofereceste por nós com toda fé.



Nós vamos renovar este Sacrifício de Jesus:

Morte e Ressureição; vida que brotou de sua oferta na Cruz.

Mãe, vem nos ensinar a fazer da vida uma oblação:

Culto agradável a Deus é fazer a oferta fo próprio coração.

Este cântico lembra-nos do kerigma (vida, morte e ressurreição de Jesus) e impela-nos a, com a ajuda de Maria (lembra-nos da importância da oração), a transformarmos a nossa vida numa dádiva, numa oferenda a Deus e consequente a uma relação de caridade para com todos. Daí que a mensagem transmitida por este cântico se assemelhe ao gesto do lava-pés.



Na nossa Paróquia

Na nossa Paróquia a Eucaristia Solene da Instituição da Eucaristia com Lava-pés e Procissão Eucarística pelas naves da Igreja realizar-se-á no dia 5 de Abril, às 19h, na Igreja Matriz de Vila do Conde.

Às 20h inicio da visita aos sacrários adornados nas igrejas Matriz, Santa Clara, Misericórdia e Lapa.







Frei Patrício – Espiritualidade do avental. Edições Loyola: São Paulo, 2007

Álvaro Ginel – Vocabulário Básico do Cristão. Edições Salesianas: Porto, 2001

P. Virgílio do Nascimento Antunes, reitor do Santuário de Fátima, in http://www.santuario-fatima.pt/portal/index.php?id=42009
















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